A dor física nos acompanha
durante toda a vida parecendo aumentar com a velhice, graças ao
sedentarismo, à alimentação deficitária, às doenças que nos acompanham nestes
nossos percursos. Sem nunca nos habituarmos a elas,
passamos a vida tentando evitá-las ou, quando muito, minimizá-las.
Que o digam
os inúmeros remédios estocados em nossas casas: aspirinas, relaxantes
musculares,
medicamentos para aliviar a azia ou o desconforto estomacal, cremes para amenizar o incômodo das picadas dos insetos etc.. Uma infinidade de pílulas, comprimidos, xaropes e pomadas participam de nosso cotidiano sem que percebamos sua real necessidade para nossa sobrevivência e qualidade de vida. Preferimos, simplesmente, tê-los à mão para rapidamente atenuar o desconforto que a dor provoca, pois ninguém gosta de sofrer.
medicamentos para aliviar a azia ou o desconforto estomacal, cremes para amenizar o incômodo das picadas dos insetos etc.. Uma infinidade de pílulas, comprimidos, xaropes e pomadas participam de nosso cotidiano sem que percebamos sua real necessidade para nossa sobrevivência e qualidade de vida. Preferimos, simplesmente, tê-los à mão para rapidamente atenuar o desconforto que a dor provoca, pois ninguém gosta de sofrer.
Uma queda pode resultar em uma
fratura; um corte profundo pode necessitar de pontos para que estanque o
sangue que por ele jorra; um câncer pode requerer a retirada de um órgão – ou
parte dele – e haverá dor em cada um desses eventos. Passada a dor, ficam as marcas, cicatrizes que
se formam em nossa pele e que não nos deixarão esquecer pois ali permanecem.
Não raro nos referimos a elas como “troféus” conquistados nas aventuras que
vivemos. Da mesma forma, podem servir como pontos de referência de momentos que
ultrapassamos as fronteiras: talvez nos
machucamos, mas sobrevivemos!
Entretanto não é a única dor que
conhecemos. Quem de nós nunca se arrependeu por ter feito algo ou mesmo por não
tê-lo feito? Há um tempo certo para que determinados atos, palavras, expressões
ocorram e modifiquem a realidade. Muitas vezes a intuição determina: Este é o momento ou este não é o momento!
Não raro por medo, vergonha,
timidez, raiva, julgamento antecipado ou outro sentimento qualquer, deixamos de
agir de acordo com o que a vontade nos pede. Algo como, diriam nossos pais, o “bom
senso”, nos inibe e, por esse vacilo, perdemos o precioso
momento que poderia fazer toda a diferença em nossa história e nas vidas de
quem nos cerca. No instante seguinte, a ação que imaginávamos fazer, já não faz
sentido.
Sentimos a dor pelo vazio que
ficou. O arrependimento por termos negado essa oportunidade de agir de acordo
com nossa consciência ultrapassa e muito a dor física que conhecemos tão bem.
Esta é a dor da alma.
Diferente da dor física, as
marcas da alma são guardadas – escondidas – como se nunca tivessem existido. E
essas cicatrizes, embora ocultas, nos acompanham por onde quer que andemos e,
como fantasmas, nos perseguem e assombram, ressurgindo quando menos esperamos.
Por que estou falando isso tudo?
Estamos envelhecendo; já somos idosos. E, como idosos, há coisas que precisamos
fazer. Coisas que são de nossa única e exclusiva competência, pois muito fizemos,
acertamos bastante, erramos mais ainda e, sobretudo, acumulamos experiência. Já
conhecemos tanto a dor física como a da alma e sabemos o peso e o preço que
pagamos por elas.
Creio que possamos alertar os mais jovens sobre essas duas
modalidades de dor e para onde cada uma pode nos levar. Faltou-nos, em nossa educação
ocidental, o respeito ao silêncio e à escuta de nossa voz interior. Faltou-nos
meditação, faltou-nos introspecção e sobrou orgulho.
Talvez possamos ensinar os jovens
a seguirem por caminhos mais suaves, certeiros e tranquilos. Talvez possamos ajudá-los
a viver desde agora a harmonia que hoje buscamos desfrutar, valorizando os
afetos, as amizades e tudo o que realmente faça sentido para nossas vidas.
Cicatrizes ainda ocorrerão, marcas no corpo e na alma, porém talvez sejam menos
frequentes e mais suportáveis para aqueles que a partir de nossa experiência
poderão trilhar novos caminhos.
Malú, este artigo me fez lembrar imediatamente da música "Epitáfio" (Titãs): "Devia ter amado mais; Ter chorado mais; Ter visto o sol nascer; Devia ter arriscado mais; E até errado mais; Ter feito o que eu queria fazer; ...; Devia ter complicado menos; Trabalhado menos; Ter visto o sol se pôr; Devia ter me importado menos; Com problemas pequenos; Ter morrido de amor".
ResponderExcluirOs médicos dizem que entre os pacientes terminais ou com doenças graves é altíssimo o índice de arrependimento por não ter aproveitado mais a vida. Na grande maioria, estas pessoas direcionaram todas as suas energias, atenção e tempo para seus trabalhos, seus estudos, compromissos empresariais e o cumprimento das “exigências” da sociedade, deixando em segundo plano a própria saúde, família, amigos e atividades de lazer.
O pensamento generalizado de “só quando eu me aposentar é que v hjou poder aproveitar a vida” é um enorme erro. O único tempo real que temos é o agora, é o presente.
Malú, você tem toda a razão quando disse “talvez possamos ensinar os jovens a seguirem por caminhos mais suaves, certeiros e tranquilos”. Precisamos, sim, fazer isso, pois vejo que é nossa obrigação e uma forma de revertermos esse quadro de arrependimentos no final da vida para uma relação de inúmeros agradecimentos por ter tido uma vida plena e repleta de alegrias e realizações.
Parabéns por mais este texto e gratidão por compartilhar.
Abraços.
José Clemente Méo
* “só quando eu me aposentar é que vou poder aproveitar a vida”
ExcluirJosé Clemente Méo Jr, seus comentários são sempre muito bem vindos. Grata por sua participação. Se essa postagem o remeteu à música "Epitáfio", dos Titãs, é porque todos nós, mais cedo ou mais tarde, nos deparamos sofrendo essas diferentes dores - não há como evitá-las. Até porque elas nos auxiliam em nosso amadurecimento. Em função delas conhecemos nossos limites assim como nossa força. Creio que possamos, nós que já somos mais experientes, abrir um diálogo com os mais jovens para refletirmos juntos sobre isso tudo. Mesmo que eles, de imediato, não entendam a profundidade do que dissermos, tenho certeza que um dia saberão reconhecer o impacto dessas dores e poderão, até, voltar a conversar conosco sobre esse assunto - agora com mais propriedade. Bjs
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre novas reflexões e aprendizados. Um preparo para nova fase que nos espera. Fico feliz por encontrar um espaço assim, de leitura acessível, de conforto e de novas possibilidades!
ResponderExcluirMayre Vigna, fico feliz por saber que aprecia este espaço e tudo o que acontece por aqui. Estamos todos crescendo e, se é assim, por que não se dar as mãos? Bjs
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