ENVELHECIMENTO ATIVO

Quando o assunto é o idoso, muito se fala em envelhecimento ativo. Mas, quanto de atividade – e quais atividades – deve ser feito para participar do grupo de idosos que envelhecem ativamente?

A resposta inclui exercícios físicos regulares, dieta saudável, manter-se mentalmente ágil por meio de exercícios de cálculo ou exercícios lógicos, investir em sua vida social, dormir bem, conhecer lugares novos, controlar o cansaço e o estresse, fazer ginástica aeróbica, não fumar, divertir-se das mais variadas formas, manter boas relações familiares e muitas outras recomendações.

Dificilmente haveremos de encontrar alguém que preencha todas essas condições. Então, a pergunta que nessa hora se apresenta é: então o envelhecimento ativo é uma utopia?

  • Uma senhora com 88 anos, aposentada há bom tempo, atuou por 16 anos consecutivos como síndica do edifício onde reside e somente a partir do ano passado desistiu de concorrer a esse cargo. Sempre disposta, falante e bem humorada, tem sido um exemplo para muita gente. Moradores e funcionários do edifício a procuram constantemente, seja pela amizade que por ela sentem, seja para obter alguma orientação específica, adquirida no exercício de sua função como síndica. Reside sozinha, cuida do apartamento, faz sua comida, passa suas roupas com muita organização e carinho, vai ao mercado. Ultimamente, dores nas articulações a incomodam, mas nem por isso desistiu de percorrer os três quarteirões que a separam do mercado que frequenta. Sua irmã reside com a família no mesmo bairro; todos os dias as duas se encontram, saem de carro para fazer compras ou participar de algum evento. Há dois anos esteve em Portugal com sua irmã e uma sobrinha e trouxe inúmeras fotos que ela mesma tirou. Sempre atenta ao que ocorre na região em que mora, ela se informa com os lojistas sobre as mudanças que observa no comércio e é a primeira a noticiar o paradeiro de uma loja que fechou ou a receber a informação correta sobre uma que ainda abrirá. Nas tardes mais quentes ela é vista na entrada do prédio, sentada no banco do jardim com outras senhoras que também ali residem, em uma animada conversa. À tarde ela procura uma de suas amigas para fazerem um passeio a pé e tomarem café descafeinado em uma das inúmeras padarias ou casas de chá existentes na região.
  • Um senhor viveu 95 anos. Empresário, durante muito tempo foi presidente de uma grande firma. Conhecido por sua cultura e por seu permanente interesse em aprender, era apaixonado pela leitura e construiu uma vasta biblioteca em sua casa. Pai de três filhos, ele e sua esposa resolveram passar a velhice longe da metrópole e se mudaram para o campo após os filhos se formarem e se encaminharem na vida. Ficou viúvo aos 89 anos. Mesmo sozinho, resolveu continuar morando no campo, na casa que o casal construíra. Metódico, adotou uma rotina diária que incluía exercícios físicos leves a moderados, caminhadas pelas trilhas existentes na região montanhosa onde habitava, alimentação natural e muita leitura ao som de músicas clássicas. Aos 93 anos, sofreu uma fratura no fêmur que resultou em cirurgia para colocação de grampos para auxiliar na calcificação dos ossos. Passou a andar com auxílio de bengala, mas preferia não mais fazer seus passeios que o animavam tanto. Nessa mesma época, por conta da queda que provocou a fratura do fêmur, contratou um cuidador, mas não admitia que este se responsabilizasse pelos horários dos medicamentos, muito menos por sua higiene pessoal. O cuidador deveria acompanhá-lo e interferir somente quando esse senhor não conseguisse realizar o que se propunha fazer. A última vez que o vi, contou que havia se colocado um desafio: ler A Divina Comédia, de Dante Alighieri, em grego, mesmo havendo estudado essa língua por somente dois anos. E, para minha surpresa, nessa conversa, me confidenciou que faltava pouco para terminar a tradução.

Os exemplos mostram que, apesar de ambos não preencherem todos os quesitos descritos ao se considerar o envelhecimento ativo, não é possível deixar de incluí-los nesse grupo, já que a lucidez, a coerência, a vontade de realizar objetivos por eles traçados e, principalmente a paixão pela vida, parece ser uma constante nos dois casos.

Cada um a seu modo deu um significado à sua velhice, a viveu ou vive com muita dignidade, sem restringir as atividades que mais lhe são ou eram caras. A velhice é um tempo de mudanças e de adaptação adequada ao novo que se apresenta e pode significar um tempo de renovação de vida.

2 comentários:

  1. Puxa Malu... que coisa " maravilhosa" suas postagens... aliás, pertinentes! Acredito que outras virão porque elas mostram que não é a idade que importa é sim, a vivência e o modo de vida que as pessoas levam, seus hábitos e rotinas. Parabéns!!! Que bom que existem pessoas como você que vieram ao mundo para acrescentar🙏🙏🤗👏👏👏👏bjs minha querida! Cláudia - Gabriela

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  2. Claudia, seja muito bem vinda! Grata por sua participação e comentário. Este blog, minha amiga, foi criado com a intenção de provocar o diálogo sobre o bem envelhecer. Como essa fase era pouco conhecida até há pouco tempo, muitos de nós, os idosos, desconhecíamos as possibilidades que agora estamos criando para adquirir maior qualidade de vida. Assim, Cláudia, sinta-se como se você estivesse em uma roda de conversa entre amigos; comente, questione, introduza assuntos de interesse para os idosos, enfim, sinta-se à vontade porque somos todos amigos. Bjs

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