Desde criança, sempre gostei de conversar com pessoas mais velhas sobre suas histórias de vida. Ouvi-las falar de suas experiências, de sua infância, adolescência, e, mesmo sobre episódios de sua maturidade, era tão bom quanto ir ao cinema assistir um filme muito aguardado. Naquela época, televisão era artigo de luxo, poucas famílias a possuíam, mas cinema, a garotada toda conhecia e se deslumbrava com filmes românticos ou de aventura. Com seus cenários minuciosos e a interpretação primorosa dos artistas que como ninguém passavam, a quem estava na plateia, sentimentos e sensações fortes e verdadeiros. Assistindo aos filmes e ouvindo histórias reais contadas a mim pelas pessoas mais velhas, fui povoando minha imaginação e criando empatia para continuar interagindo com todos indiscriminadamente e entender e respeitar o modo como vivem e como sentem.
Hoje, ao iniciar uma conversa com alguém de minha idade ou mais velho que eu,
noto que a maioria das pessoas tende a falar sobre sua saúde, das dores físicas que sente ou, ainda, usa uma variável como falar de sua memória que já começa a falhar. Não quero e não posso aceitar que o envelhecer seja reduzido aos medicamentos que se toma ou aos esquecimentos que se comete – embora, eu mesma, quando mais fragilizada em função de uma doença, me comportei dessa mesma forma! A velhice é uma das mais belas fases da vida porque nela reunimos nossas vivências e criamos o contexto propício para transformá-las em sabedoria!
noto que a maioria das pessoas tende a falar sobre sua saúde, das dores físicas que sente ou, ainda, usa uma variável como falar de sua memória que já começa a falhar. Não quero e não posso aceitar que o envelhecer seja reduzido aos medicamentos que se toma ou aos esquecimentos que se comete – embora, eu mesma, quando mais fragilizada em função de uma doença, me comportei dessa mesma forma! A velhice é uma das mais belas fases da vida porque nela reunimos nossas vivências e criamos o contexto propício para transformá-las em sabedoria!
Gosto da definição de memória dada por Gazzaniga (Fundador e Presidente do Cognitive Neuroscience): “memória é a capacidade do sistema nervoso de adquirir e reter habilidades e conhecimentos utilizáveis, o que permite aos organismos vivos beneficiar-se da experiência”. A memória, então, como se pode constatar, tem muito a ver com a aprendizagem no seu sentido mais puro e amplo, ou seja, pelo aproveitamento das experiências, tanto do ponto de vista positivo como negativo. Para obter memórias, importa a ação de mecanismos específicos que operem no sentido de 1. receber a informação (fase da aquisição); 2. fixá-la (fase da formação) e 3. recuperá-la quando necessário (fase da evocação).
Todas as memórias são singulares, individuais. Posso viver uma mesma situação juntamente com tantas outras pessoas e, sempre, minhas lembranças, assim como as que cada uma delas terá a respeito desse evento serão exclusivas, pessoais, únicas. Isso porque as emoções, o nível de consciência, o grau de envolvimento, o estado de ânimo, o foco de atenção de cada uma naquele momento, irão conferir um “colorido”, um “ritmo”, uma “melodia”, uma “temperatura”, um “sabor”, enfim, sensações totalmente diferentes das minhas recordações e das demais pessoas.
Importante é fazermos a distinção entre memória de curta duração e memória de longa duração. A memória de curta duração, como seu nome bem o diz, retém a informação por um tempo mínimo, no máximo durante um minuto, o tempo necessário para que possamos raciocinar e decidir como agir frente à situação que se nos apresenta. Após esse tempo, a informação desaparece. A memória de longa duração, ao contrário, preserva a informação por horas, dias, anos, às vezes, por toda a vida. Embora diferentes, ambas se completam: a de curta duração obriga-nos a tomar uma atitude imediata e a de longa duração “recolhe” a informação se esta for pertinente, a organiza de forma a agrupá-la com outras tantas informações similares ou complementares e, assim, libera a memória de curta duração para continuar “alimentando” os “arquivos” que possuímos em nossa memória de longa duração.
Esquecer, assim como lembrar, faz parte do modo como operamos para sobreviver em um mundo onde o que não falta são estímulos. Ficaríamos loucos – muito mais do que já somos (rsrsrs!) – se retivéssemos em nossa memória todos os fatos, em detalhes, que vivenciamos em nossas vidas. Por isso, aquilo que julgamos não ser procedente, não ser importante ou fundamental para nossa sobrevivência física e psicológica é descartado.
Quando, então, devemos nos preocupar com as falhas de memória? Quando o conteúdo e a frequência daquilo que esquecemos começam a atrapalhar nossas vidas. Perguntar, onde está um determinado livro quando estamos elaborando uma pesquisa e temos “milhares” de livros abertos à nossa frente é diferente de perguntarmos cinco vezes, no mesmo dia e para a mesma pessoa, se já tomamos o café matinal.
De resto, para encerrarmos essas tantas informações, fica o alerta: “o que não usamos, tende a desaparecer!” Daí a importância de se exercitar também em termos de conservar nossas memórias atuantes, firmes e fortes.
Falaremos, em breve, sobre como podemos exercitar nossa memória. Por enquanto, ficam aí duas perguntas a serem respondidas usando apenas a sua memória:
1) Quantos e quais são os nomes dos anões do conto Branca de Neve?
2) Quais são as cores primárias?
Bom trabalho!
Malú, suas histórias fazem com que eu va montando todo um cenário em minha mente, como um filme. São textos cheios de informações e envolventes. Gratidão e parabéns.
ResponderExcluirJosé Clemente Méo, na verdade, é isso que procuro que os leitores deste blog sintam. Fico feliz em saber que estou atingindo meu objetivo! Creio ser importante, nessas reflexões que faço, partir de experiências vividas e só depois, fazer a associação com o assunto que desejo tratar. Bjs
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