RESPEITO É BOM... E EU GOSTO!

Em minha adolescência, ia para o colégio de ônibus. Fazer aquele trajeto de ida e volta representava para mim um imenso e desagradável desafio, já que muitas vezes, ao entrar no ônibus, percebia com desgosto que todos os assentos estavam ocupados.

Naquele tempo, acima das janelas e percorrendo toda a extensão do veículo, havia um cordão que, ao ser puxado, fazia soar o sinal de parada no próximo ponto. Em pé, no corredor , me era impossível alcançar o cordão do sinal. Minha estrutura física é a de uma pessoa pequena – meus pais diriam “mignon”. Na escola, fazíamos fila para entrar na sala de aula e, fatalmente, meu lugar era ser a primeira naquela formação.

Hoje, me tornei usuária de ônibus e metrô. Encontro as estações cada vez mais apinhadas de gente e trens
que já chegam lotados. As pessoas neles embarcam tentando se equilibrar nas situações de aumento ou redução da velocidade do trem arriscando-se a sofrer quedas, a se machucar e a causar algum tipo de acidente com os outros passageiros. No meu caso isso não ocorre porque quase sempre alguém cede o lugar que está ocupando para que eu possa me sentar. E nem preciso pedir ou fazer valer meus direitos!

No início achava estranha tal gentileza para comigo. Ficava imaginando o que levaria as pessoas a se comportarem assim e cheguei a uma conclusão: talvez a experiência que vivi em minha juventude tenha me tornado mais humilde e meu olhar  possuiria uma tranquilidade que só as pessoas mais vividas – os idosos – possuem.  Acredito que as pessoas estão mais sensíveis a este olhar.

Entretanto, esta condição por si só não explica o comportamento respeitoso que observo ocorrer cada vez com maior frequência nos transportes públicos, não só comigo, mas com os idosos de forma geral, com os deficientes, pessoas com crianças de colo e obesos.

Respeito, digamos assim, é a arte de reconhecer, sem preconceito de qualquer ordem, a individualidade das pessoas, de entender que cada uma é diferenciada das demais. É encontrar no outro, mesmo que por alguns instantes, não apenas seu aspecto físico, mas a alma, a chama que se encontra em seu interior e o determina como um ser único. Por esse encontro, mostrar-se agradecido cedendo o lugar que ocupava no ônibus, metrô ou calçada.

Respeito é atitude e um dever a que todos temos direito.  Inicia esse movimento quem encontrou o respeito a si próprio e se sente pleno de humanidade.  Precisa reconhecer-se, antes de mais nada, em eterna construção, como alguém falível, sem maiores recriminações, pesares ou orgulho de seus acertos – já que essa é uma possibilidade, e não a única, para os atos que comete..

Tenho percebido, cada vez com maior frequência, pessoas mais jovens, de diferentes gerações, sendo gentis. Estão obedecendo às placas que apontam os assentos preferenciais? Não acredito, já que as placas servem como lembrete, mas o comportamento que observo não corresponde a quem obedece, mas a quem respeita.

Recentemente, ao entrar no metrô, procurei ficar próxima à porta do vagão.  Imediatamente uma jovem que estava sentada em um assento preferencial levantou-se para me ceder seu lugar. Porém eu não conseguia chegar até ela com o trem em movimento. Agradeci a gentileza e me mantive  onde estava. Qual não foi minha surpresa ao perceber que ela continuou em pé, deixando o lugar vago caso eu mudasse de ideia. Isso é respeito! São atitudes como estas que chamo de atenção diferenciada. Direito de todos, independente da idade, sexo, origem, cor... Mas, para o idoso, lembra o respeito pela sabedoria que ele acumulou e possui.

Sou muito grata a quem me oferece o lugar e faço questão que essa pessoa saiba disso. Não raro inicio uma conversa com ela, sem nenhum interesse maior do que fazer com que ela fique bem, apesar de ter perdido o conforto de permanecer sentada ao ser gentil comigo.

Faço questão de mostrar minha jovialidade, apesar de saber que tenho idade para ser a avó dela!

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7 comentários:

  1. Malu, já já vc vai precisar lançar um livro de cronicas...ta muito gostoso..vc fala com as pessoa...beijos

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  2. Grata por apreciar a postagem, ReporterCidadão, mas um livro de crônicas exige um caminhar mais longo e vivências diferenciadas. Por enquanto meu foco tem tudo a ver com o universo de idoso e da qualidade de vida para essas pessoas. Um grande abraço!

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  3. Muito bom, Malú. As tuas histórias e reflexões são sempre cheias de sentimentos e detalhes. Abraços.

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  4. Clemente, grata por seu comentário! É sempre muito bom e gratificante saber como as pessoas que estão próximas da gente percebem nosso ponto de vista sobre o cotidiano. Bjs

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  5. De fato, os ônibus e metrôs que eu pego têm sempre pessoas gentis que sempre oferecem seus lugares para mim - e questão de orgulho mesmo - recuso a gentileza, como forma de exercício de equilíbrio e agilidade. Porém não temos de enfrentar transportes coletivos lotados, onde a realidade é outra...

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  6. CNavarro, sempre que posso busco embarcar em horários que não sejam de pico. Porém, há momentos em que não se tem escolha. E, o que tenho visto é que lotado ou não, as pessoas estão se conscientizando da possibilidade de serem gentis e, talvez, até por uma questão de orgulho ou amor próprio, façam questão de oferecer o lugar. Grata por sua participação!

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  7. Olá boa tarde. Adorei esse blog Vou acompanha-lo e sempre que puder lhe mandar uma historinha. Tenho muitas e muitos motivos. Para te ajudar a conta-las. Um abraço! Obrigado.

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