Uma coisa é certa: não é a idade
que importa quando se trata do envelhecer. Lembro-me de meus pais, não sei
precisar a idade que tinham, mas, certamente tinham 60 anos ou mais. Eles
diziam que às vezes se assustavam ao ter que citar a idade que possuíam, já que
esta em nada coincidia com a energia que
sentiam ter. E nesses momentos de reflexão e recolhimento, meu pai ainda dizia:
“Quem me dera ter a disposição que tive nos meus 30 anos somada à experiência
que possuo hoje!” E completava: “Ninguém me superaria!”
Na época, eu ouvia esse
comentário e achava graça ao juntar a figura de meu pai bem mais jovem ao modo
atual como ele se apresentava. E, por mais que buscasse entender o que
significavam essas palavras, somente hoje, aos 67 anos, compreendo com certa
dor na alma o que dizia. E, plagiando o poeta, arrisco-me a dizer que isso
ocorre somente porque “o envelhecer tem razões que a própria velhice desconhece”.
Recebi há algum tempo um poema de
Luan Jessan, publicada na internet, que traduz aquilo que antes eu não entendia
e que agora sei, exatamente, o seu sentido:
“Por fora
tenho tantos anos que você nem acredita.
Por dentro, quinze ou menos, e me acho bonita.
Por fora, óculos; algumas rugas, gordurinhas, prata
nos tintos cabelos.
Por dentro sou dourada, alma imaculada, corpo de
modelo.
Por fora, em aluviões, batem paixões contra o
peito.
Paixões por versos, pinturas, filosofia e amigos
sem despeito.
Por dentro, sei me cuidar, vivo a brincar, meio sem
jeito.
Não me derrota a tristeza; não me oprime a saudade;
não me demoro padecente.
E é por viver contente que concluo sem demora: é a
menina que vive por dentro, que alegra a mulher de fora!”
Atualmente as pessoas
se preocupam tanto em manter uma aparência jovem como se por ela fosse possível
avaliar a energia, a disposição, o bom humor e tantas outras “qualidades” que
reconhecemos traduzir o jovem que um dia foram. Assim, se sujeitam a realizar
cirurgias plásticas, usar roupas justas e decotadas, camisetas regata para
mostrar músculos rijos e a pele bronzeada, imaginando estarem, dessa forma,
bebendo da fonte milagrosa que perpetua
a juventude.
Mal sabem elas que
agindo desse modo estão deixando de viver e apreciar as belezas, as surpresas e
a felicidade inerentes à fase da vida na qual se encontram e, muito menos, a
que desejam perpetuar. Não imaginam que a fonte da juventude se encontra, única
e simplesmente,
dentro de cada um de nós e nunca no lado
de fora...
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Próxima postagem dia 10 de maio: MINHA MÃE E MINHAS AVÓS - SAUDADE!